Crônicas da Minha Vida


Esquecida

Era dia de festa na fazenda da minha tia Neide, aniversário do meu primo. Eu tinha uns oito anos, era uma menina travessa e sapeca, até mesmo tagarela, coisa difícil de acreditar nos dias de hoje. Saímos cedo da fazenda Bonito, que pertencia a minha avó, onde costumava ficar a maior parte da família durante as férias, já que tinha uma sede grande e abrigava confortavelmente a maior parte das pessoas, eu disse pessoas, porque as crianças ficavam no quarto do meio do corredor, e ali tinha-se que amontoar TODAS as crianças. A minha família por parte materna era grande, oito tios, duas tias, daí faz-se uma média de três a quatro primos por cabeça. Bem, juntou-se a meninada e lá se foi. Passamos pela fazenda da minha tia Ione, pela fazenda do meu pai, pela fazenda do meu tio Felipe e enfim, chegamos ao local.

Havia pés-de-coqueiro na entrada, o que eu mais achava lindo, e uma varanda enorme para brincar, além de cachoeira, frutas, curral, bichos e o que eu mais adimirava... Um avião! É claro que eu não sabia a diferença entre o aeroplano do meu tio e um avião de verdade, mas era sempre o máximo observá-lo sobrevoando as redondezas, ás vezes ele voava até Januária, sempre chamando a meninada, mas ninguém tinha coragem, até mesmo porque uma vez ele caiu. Mas voltando a festa, tudo foi uma belezura, doces, salgados, brincadeiras, eu me diverti bastante, tanto que caí no sono em uma cadeira na sala de televisão. A iluminação era alimentada por um gerador, isso significava que na hora de dormir ficaríamos apenas nas velas.
Bom, a festa acabou, os convidados foram embora, meu pai e meus tios foram os últimos a deixar o local. Com tanta criança, acabaram não se dando conta que eu estava dormindo na sala, meu pai achou que eu estivesse na traseira do carro, na época uma D20 verde, ou no carro do meu tio Felipe, meu tio pensou o mesmo, e lá se foram esquecendo de mim, detalhe, minha tia Neide e meu tio Vânio, donos da fazenda em que estávamos, também foram para a fazenda Bonito.
Quando abri os olhos na escuridão da casa vazia, eu fiz o que qualquer criança faria, comecei a chorar. O pior é que eu acordei exatamente no momento em que ouvi o barulho do carro saindo, o meu desespero foi maior, a casa estava toda trancada, toda escura, não sabia onde tinha velas, ninguém me ouviria, eu ficaria ali sozinha por horas com medo das histórias mal assombradas que já ouvira falar. Eu chorava e gritava, batia na porta, esperneava, foi uma agonia só. Mas como as crianças possuem um anjo da guarda que não tira férias, para a minha imensa sorte o carro que ouvi não estava saindo.
Sede da Fazenda Bonito
Os meus tios já estavam de volta da fazenda Bonito, e tiveram uma enorme surpresa ao encontrar uma garotinha trancada em sua casa, eu acordei no momento certo, não fiquei muito tempo sozinha. Minha tia, toda preocupada, me acalmava e dizia que ia arrumar a cama da minha prima para eu dormir, mas eu dizia aos prantos que não podia ficar, o motivo? Não estava com a minha escova de dentes! Ela não sabia se ria ou se me confortava, por fim, quando aceitei usar a escova da minha priminha, meus pais chegaram para me buscar, foi uma alegria só, pois quando chegaram na fazenda da minha avó e não me viram em parte alguma, descobriram que até dormindo eu fazia traquinagem.                                            
Amanda Vieira:)

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